Página recuperada da Revista Playboy edição de agosto de 1998.

 
ANGÉLICA

Uma conversa franca com a lourinha que virou louraça sobre amor, sexo, dinheiro, televisão, rivais, revoltas e, ufa!, excesso de trabalho



"Num show, passando por um cordão de isolamento, senti uma mão no meu seio. Quando olhei, vi que era a mão de um dos policiais... [pausa]. Não tive dúvidas: dei uma joelhada no saco dele."



Fotos: Silvana Marques
 



"Beijar, só na noite seguinte, nunca na primeira. Esse negócio de ficar eu acho bobeira. Você não sabe nem o nome da pessoa e vai beijar na boca? Agora, depende... Se fosse o Brad Pitt...[Risos.]"

 



"No segundo ano [de carreira] eu ganhava mais do que meu pai. O primeiro carro que minha mãe comprou foi com o dinheiro dos comerciais. Depois, na Manchete, comprei um apartamento."

Chamar Angélica Ksyvickis pura e simplesmente de lourinha é, hoje em dia, no mínimo uma conjunção de injustiça com desinformação. Há pelo menos uma trinca de excepcionais motivos para tratá-la, digamos, como uma louraça. Primeiro: ela não é mais aquela garotinha projetada para a fama aos 5 anos, num concurso de beleza infantil do extinto programa Buzina do Chacrinha. Há muito se transformou numa belíssima mulher, que, prestes a completar 25 anos, sabe exatamente o que quer, inclusive dos homens. Segundo: Angélica é quem assina os cheques referentes a suas contas, bem como as de muitas outras pessoas, incluindo-se nesse rol as despesas da família. Terceiro: o invejável faturamento de 1,1 milhão de reais mensais é mais do que suficiente para acabar com qualquer diminutivo.

Nascida no dia 30 de novembro de 1973, em Santo André, na região do ABC paulista, a filha caçula do metalúrgico Francisco Ksyvickis e da dona de casa Angelina, herdeira de traços russos e poloneses, Angélica já passou tanto tempo diante das câmeras que pode ter esquecido como se soletra a palavra anonimato. Reconhecida em cada esquina do país, ela recolhe 40% de seus rendimentos de exatamente 400 diferentes produtos licenciados com a sua marca -- o que envolve coisas com seu nome, seu rosto e até com sua famosa pinta na coxa esquerda, de 2,5 centímetros de largura e 5 centímetros de comprimento. Outro quinhão, de cerca de 200000 reais mensais, vem de anúncios publicitários. Uma gorda fatia de 300000 reais é composta pelo salário pago pela Rede Globo. E o restante da bolada se compõe dos lucros dos onze discos que ela já lançou e de suas aparições em público para platéias de até 50 000 pessoas a cada show.

O nome Angélica e sua logomarca -- um A ladeado por asinhas de anjo -- já venderam pelo menos 3,5 milhões de vidrinhos de esmalte, 1,2 milhão de sandalinhas de plástico e mais de 10 milhões de prosaicos pacotes de cereais para café da manhã, além de bonecas, cosméticos, roupas, joguinhos, mochilas e computadores. No ano passado, a empresa Angélica Produções e Participações contabilizou um faturamento bruto de 75 milhões de reais. Sua principal concorrente, Xuxa Meneghel, embolsou no mesmo período cerca de 15 milhões de reais com o mesmo tipo de atividade comercial, o que deixa Angélica folgada no topo do pódio de licenciamento dos artistas brasileiros. Só que ela aproveita essa folga para trabalhar mais de doze horas por dia, seis dias por semana.

E vem mais trabalho por aí. A Globo Filmes, a mais recente empresa fundada pelas Organizações Globo, decidiu tê-la como a estrela de seu primeiro longa-metragem. Dirigido por Daniel Filho e com roteiro assinado por Carlos Lombardi, mais conhecido como autor de novelas, Nas Ondas da Angélica (título provisório) é uma história aventuresca sobre televisão que começa a ser filmada ainda em agosto e deve estrear em dezembro em centenas de cinemas de todo o país.

Angélica já se considera uma veterana na carreira de atriz -- depois de participar de Os Heróis Trapalhões, Os Trapalhões na Terra dos Monstros e Uma Escola Atrapalhada, três filmes produzidos pelo comediante Renato Aragão --, mas diz que se sente mais à vontade como apresentadora do programa Angel Mix, que alcança a média diária de 12 pontos no Ibope no horário das 8 às 12 horas. "Gosto de ser eu mesma", diz a também estrela da mininovela Caça-Talentos, uma espécie de seriado recheado de efeitos especiais no qual seus longos cabelos lisos são cacheados para que interprete uma irreverente fada contemporânea.

Sua paixão, porém, sempre foi cantar. Seus discos vendem em torno de 150 000 cópias por ano, mas o sucesso "Vou de Táxi" (carro-chefe de seu segundo álbum, lançado em 1987) alcançou a marca monumental de 1 milhão de exemplares vendidos. Nada mal para quem foi aplaudida em público pela primeira vez de boquinha fechada, aos 2 anos de idade, ao ser eleita a criança mais bonita num concurso do Clube de Campo Havaí, um reduto da classe média, à beira da Represa de Guarapiranga, em São Paulo, no ano de 1975.

No topo de uma carreira de sucessos que começou com um programa infantil na TV Manchete (por sete anos), ganhou reforço no SBT (com mais três anos) e chegou à Rede Globo (em 1996), Angélica recorda-se de ter passado somente por um trauma sério na vida, há vinte anos: o dia em que a casa da família foi invadida por assaltantes, o pai ficou ferido gravemente por dois tiros e sua única irmã, Márcia (onze anos mais velha), teve o cano de um revólver enfiado na boca. Curiosamente, foi exatamente para fazê-la esquecer do episódio que a mãe, Angelina, decidiu inscrevê-la no concurso de beleza do Velho Guerreiro. Angélica passou a perna em 2000 concorrentes de todo o Brasil, estrelou em seguida dezenas de campanhas publicitárias, quando ainda mal sabia escrever o próprio nome, e, aos 12 anos, em abril de 1986, tornou-se apresentadora de televisão.

Não saiu mais de cena -- nem pretende. Angélica tem contrato assinado com a Rede Globo até o ano 2001 e planos de manter-se como apresentadora bem além dessa data. Admirada não apenas por crianças e adolescentes que imitam seu jeito de vestir e de falar, mas também por rapazes e gente mais grandinha que admira também outros de seus predicados, ela quer seguir uma carreira ainda mais fulgurante e acalenta o desejo de investir num programa para adultos. "Sem abandonar o público infantil", ela faz questão de acrescentar.

Como cresceu em público, Angélica nem sempre conseguiu manter sua vida privada longe das luzes da própria TV ou das colunas de fofocas da imprensa. Mas seu melhor momento de mulher adulta acontece agora, quando ela mesma conta, por exemplo, como terminou um relacionamento de sete anos e meio com o apresentador César Filho, seu primeiro grande amor, em todos os sentidos, mas não eterno. Oficialmente sem namorado, Angélica descreve uma amizade "em preto-e-branco com bolinhas coloridas" com o dublê de ator e cantor Maurício Mattar, assume que sentiu uma paixão passageira pelo garotão televisivo Márcio Garcia e que está com o coração aberto a novas experiências.

Para tratar desses e de assuntos ainda mais íntimos da vida da louraça Angélica, PLAYBOY destacou sua colaboradora no Rio de Janeiro Dalila Magarian, que conta um pouco dos bastidores das conversas:

"Entrevistar Angélica era um duplo desafio. Primeiro, seria preciso conseguir uma data na qual ela pudesse ceder várias horas de uma agenda absurdamente repleta. Segundo, porque ela sempre teve a imagem de uma garota cercada pelo excesso de proteção familiar, de opiniões ingênuas e história pessoal muito conhecida. Mas o que aconteceu foi o contrário. Deparei-me com uma mulher adulta, que sabe muito bem o que quer. Angélica não se recusou a falar sobre assunto nenhum, à exceção de seu faturamento (nesse caso, atendendo a uma cláusula de seu contrato com a Rede Globo). Mas permitiu que seus assessores o fizessem. Também não se esquivou de revelar suas idéias e experiências sobre sexo, falar da sua primeira vez, dos rompimentos e de homens mais velhos.

"Marcar o dia da entrevista foi bem mais complicado. Acabamos nos encontrando em duas diferentes ocasiões, com um longo invervalo entre as duas conversas, que renderam oito horas de gravação. A primeira sessão aconteceu nos bastidores do Teatro Fênix, no Rio de Janeiro, onde Angélica grava o seu Angel Mix. Ela estava cansada, mas em nenhum momento demonstrou mau humor. Acompanhada da irmã, a publicitária Márcia Marba, diretora artística da empresa Angélica Produções e Participações, ela precisou interromper a conversa uma vez, para tratar de negócios com seu empresário, Marcos Saraiva, e se informar sobre novos produtos a ser licenciados.

"Nosso segundo encontro foi num sábado de sol, numa cobertura tríplex na Barra da Tijuca com 1000 metros quadrados de área e irrestrita vista para o mar. Ela tinha se mudado para lá fazia semanas. Avaliado em 1,2 milhão de reais, o apartamento passou por uma reforma de nove meses para receber a moradora e consumiu 500 000 reais no projeto de decoração assinado pelo arquiteto João Armentano. Fui conduzida a uma espaçosa sala íntima com sofás confortáveis e um imenso telão para projeção de filmes, dando saída para o terraço com piscina e para a sala de ginástica.

"Angélica surgiu vinte minutos depois, vestindo uma blusa de alcinhas que marcava o desenho dos seios e uma calça justa. Produzida com uma maquiagem leve, ela estava preocupada com as fotos da entrevista. 'Você quer que eu use roupa de outra cor ou penteie os cabelos de um jeito diferente?', peguntou à fotógrafa, sem esconder a vaidade. Depois, durante as respostas, não esconderia também as outras características de sua personalidade e as histórias de sua vida -- nem mesmo a de ter se arrependido de um detalhe nada negligenciável de seu passado. 'Eu deveria ter namorado muito mais', concluiu a certa altura. Mas isso, todos sabemos, ela ainda tem muito tempo pela frente para fazer. Aos candidatos ao posto, ela dá várias dicas nesta entrevista."

PLAYBOY -- Como é o seu tipo de homem ideal?

ANGÉLICA -- [Risos.] Hoje em dia não ligo mais para a beleza. Beleza não põe mesa [rindo]. Quero que seja uma pessoa dedicada, carinhosa, que admire o que eu faço e que também trabalhe muito, para não reclamar do meu ritmo de trabalho.

PLAYBOY -- Nenhuma pista sobre o tipo físico?

ANGÉLICA -- Gosto de homens morenos, já deu para perceber, né? E de homens fortes, não muito magros. Só abro exceção para um louro, o Brad Pitt [risos]. É louro, mas tem traços agressivos, cara de homem.

PLAYBOY -- Os homens preferem as louras ou as morenas?

ANGÉLICA -- Acho que os homens preferem todas as mulheres [rindo]. Ô raça! [Risos.] Eu tenho muitos amigos que adoram morenas. A loura tem uma coisa com homem, com mulher, com criança, que é a coisa da fada, da princesa, dos personagens purinhos, bonitinhos. E vivemos num país tropical, onde ser loura é o diferente. Vou para o exterior e sou confundida com trombadinha! [Risos.]

PLAYBOY -- Você usa alguma tintura no cabelo?

ANGÉLICA -- Não, nunca, mas se usasse falaria. Evito usar muita coisa no cabelo para não estragá-lo.

PLAYBOY -- Qual é o ator dos seus sonhos?

ANGÉLICA -- Brad Pitt! [Risos.] Meu sonho é fazer uma entrevista com Brad Pitt, fazer um filme com Brad Pitt, conhecer o Brad Pitt!

PLAYBOY -- Tudo bem, mas o que você acha, por exemplo, do Leonardo DiCaprio?

ANGÉLICA -- [Sem entusiasmo.] É, legal. Mas não chega aos pés do Brad Pitt! [Risos.]

PLAYBOY -- Quer dizer, então, que homens muito jovens não têm chance com você?

ANGÉLICA -- Realmente gosto de homens mais velhos [rindo]. Tem muito garoto por aí com uma cabeça ótima. Mas convivo com pessoas bem mais velhas, sou muito madura para minha idade. Então perco um pouco a paciência quando não rola um diálogo. Gosto dos garotos também, me divirto com eles, mas para manter um relacionamento sério prefiro os homens mais velhos. Não veeeeelhos [rindo]. Mas nunca mais novos. A idade que me atrai é, digamos, uns cinco anos a mais do que eu. Dá menos dor de cabeça. Porque homem em si já é muito confuso! [Risos.]

PLAYBOY -- O que você não suporta num homem?

ANGÉLICA -- Machismo. Esse tipo que pensa que pode tudo e você não pode nada. Acho que homem tem que chorar, ter a sua própria fragilidade. Claro que não se pode deixar a mulher muito masculinizada nem o homem muito feminino. Mas homens e mulheres precisam se aproximar. O homem tem que ajudar no serviço de casa porque a mulher ajuda na rua. Acho que a mulher tem que tomar muito cuidado nessa ânsia de querer ser igual ao homem para não perder a feminilidade.

PLAYBOY -- O que você espera de um relacionamento?

ANGÉLICA -- Espero estar apaixonada. Para eu namorar, a pessoa tem que ser realmente um companheiro, que possa estar do meu lado, dividir as coisas, até como era um pouco com o César [Filho], que era muito legal nesse lado. Mas que também haja paixão, admiração. É muito importante admirar alguém que me admire também como profissional e como pessoa. Que me olhe e veja que sou legal. Eu me considero muito parecida com isso que todo mundo comenta e vê. Mas há uma magia, e na vida real eu faço o que todo mundo faz. Então, quero uma pessoa que me conheça na intimidade e continue me admirando ou passe a me admirar ainda mais. E espero um dia ter um marido, ter filhos, casar também.

PLAYBOY -- Algum tarólogo ou astrólogo já previu quando você irá se casar?

ANGÉLICA -- Ih, cada um fala uma coisa! E a data já bateu umas duas ou três vezes. Dizem que vou me casar e ter um filho com 27 anos. E garantem que será um menino, e depois terei mais dois filhos.

PLAYBOY -- E o que mais?

ANGÉLICA -- Que vou ficar viúva! [Rápida.] Ih, não publica isso, senão ninguém vai querer casar comigo! [Rindo.]

PLAYBOY -- Você é ciumenta?

ANGÉLICA -- Sou, mas não é posse. É ciúme mesmo. Mas nunca armei barraco. Sou muito discreta e tinhosa. Me dou valor. Não dou o braço a torcer. Às vezes é um pouco de insegurança. Estou sempre muito rodeada de gente, quero as pessoas todas para mim... Mas é tudo controlável.

PLAYBOY -- O que você acha ruim no casamento?

ANGÉLICA -- A invasão de individualidade. Esse é o principal motivo das separações. É preciso dar espaço para o outro respirar. Apesar de ser ciumenta, vou tentar evitar esse tipo de coisa..

PLAYBOY -- E o que faz um casamento dar certo?

ANGÉLICA -- O companheirismo. Hoje em dia os casais estão muito moderninhos. Essa história de casamento aberto, por exemplo. Acho melhor, então, não ter casamento. Como alguém consegue ser feliz sabendo que o marido está com outra? Tem gente que aceita. Mas, para mim, isso é falta de amor-próprio. Tenho até medo de falar, porque sou muito nova, ainda posso passar por tanta coisa... Vai que me apaixono perdidamente por alguém e começo a abrir mão de tudo. Vou deixar o futuro acontecer.

PLAYBOY -- É verdade que você pretende ter filhos até os 29 anos, como saiu publicado numa revista?

ANGÉLICA -- Perguntaram o que faltava para eu me sentir realizada. Claro que aos 24 anos falta muita coisa para me achar realizada [risos]. Daí, o que falta para qualquer mulher? Ué, quero me casar e ter filho. Mas não é para agora. Estou curtindo esse momento sozinha. Mas vai chegar a hora em que vou querer curtir um filho, um marido... E a repórter pegou essa história e antecipou as coisas, para comparar com a Xuxa, e isso me irritou. Quem vê diz: "Ih, olha a Angélica imitando a Xuxa, querendo ficar grávida". E não é assim. Isso a gente não programa. Pode ser que, quando eu tiver 28, queira ter um filho só com 32.

PLAYBOY -- Você é a favor ou contra o aborto?

ANGÉLICA -- É complicado. Sou a favor da vida. Não sou a favor da morte. E sou a favor de um certo controle de natalidade. Acho que deveria existir controle, para essa mulherada parar de fazer filho. Mas daí vem a questão da educação. Tem muita adolescente grávida, tem muita criança que nasce sem pai. A televisão também tem uma participação muito grande, tem que falar mais sobre isso, deixar um pouco de lado o falso moralismo e procurar ver mais a realidade. Tem muita criança abandonada. E eu sou muito a favor de adoção.

PLAYBOY -- Você já pensou em adotar uma criança?

ANGÉLICA -- Já, aos 14 anos. Minha mãe perguntou se era para ela cuidar, claro [risos]. Eu não adotaria uma criança sem primeiro arrumar um marido para isso. Não vou ser louca de adotar uma criança sem pai, porque seria egoísmo da minha parte. Por mais que eu pretendesse ajudar, não estaria dando uma boa estrutura para o meu filho.

PLAYBOY -- E, nessa difícil caminhada para encontrar um amor, você já beijou alguém na mesma noite em que conheceu?

ANGÉLICA -- Beijar?! Não. Na noite seguinte, mas nunca na primeira [risos]. Esse negócio de ficar eu acho bobeira. Você não sabe nem o nome da pessoa e fica só para beijar na boca? Agora, depende do ficar... Se fosse o Brad Pitt [risos]... Eu sei toda a vida dele, todo o passado dele! [Risos.] Beijo na boca é um negócio muito íntimo, tem que conhecer a pessoa.

PLAYBOY -- Você fica excitada vendo uma cena erótica no cinema, com o Brad Pitt, por exemplo?

ANGÉLICA -- Humm... Acho que sim [risos]. Não precisa nem ser com o Brad Pitt. Se for bonitinho... Depende do momento.

PLAYBOY -- Você se considera sensual? Qual a parte do seu corpo de que você mais gosta?

ANGÉLICA -- Às vezes me acho uma mulamba, outras vezes me sinto sensual... Gosto do meu cabelo... e da minha boca. Gosto do meu sorriso. É o que mais chama a atenção em mim, a boca e o sorriso.

PLAYBOY -- Você já se apaixonou por alguém que nunca soube do seu amor?

ANGÉLICA -- Fui apaixonada por um professor de matemática. Mas ele nunca ficou sabendo. Vai descobrir agora! E eu era péssima em matemática! Mas nunca fui dessas de amor platônico. Se gostava, eu ia atrás. Nunca achei essa que mulher não pode tomar a iniciativa. Se gosta da pessoa, tem que demonstrar isso de alguma forma, correr e ir à luta. Claro que tem que fazer um charminho de vez em quando. Como o homem também faz. Hoje em dia eu não teria paciência para ter um amor platônico. Se eu estiver gostando de alguém, ele saberá [risos].

PLAYBOY -- Você já foi paquerada por outra mulher?

ANGÉLICA -- Não, mas soube de mulheres que ficaram a fim de mim, pessoas do meio, até.

PLAYBOY -- Do meio? Opa! Quem?

ANGÉLICA -- Ah, pessoas da produção, gente assim, ninguém conhecido. Mas nunca alguém que tenha me deixado constrangida ou que precisasse dar um fora. Nunca me deixaram em má situação. Acabava até levando na brincadeira. Mas acho complicado. É um assunto meio novo ainda para mim. As primeiras vezes em que vi duas mulheres juntas fiquei meio assustada.

PLAYBOY -- Atualmente você fica à vontade ao ver um casal gay?

ANGÉLICA -- Fico numa boa, porque tenho alguns amigos homossexuais. Eles me tratam bem, gostam de mim. Tenho vários fãs homossexuais. São alegres, de bom astral e fiéis. Quando gostam, brigam por você, idolatram, são mais sinceros. Talvez por terem assumido uma postura diferente na vida, têm mais coragem.

PLAYBOY -- Você conseguiria se imaginar numa relação homossexual?

ANGÉLICA -- [Rindo, pede para a empregada, Selma, servir um pedaço de bolo, toma um pouco de água e, finalmente, responde:] Complicado, difícil dizer! Digo hoje que não. Não é preconceito, mas gosto mesmo é daquela coisa certinha. Ficaria meio tímida.

PLAYBOY -- Tem algum tipo de cantada que deixa você constrangida?

ANGÉLICA -- Aquelas coisas tipo baixaria, chamando de gostosa, bunduda, disso eu não gosto. Prefiro as mais carinhosas, quando um homem a trata por querida, essas coisas. Se partir para a baixaria, faço cara feia na hora.

PLAYBOY -- Você já passou por alguma situação desse tipo?

ANGÉLICA -- Já, na saída de um show em Londrina [no Paraná]. Quando estava passando por um cordão de isolamento, senti uma mão no meu seio. Pensei que fosse uma criança. Quando olhei, vi que era a mão de um dos policiais [pausa]... Subi a escada do ônibus tentando esquecer o assunto, mas me subiu o sangue... Não teve jeito: desci à procura do infeliz e vi que ele estava olhando para a minha cara. Não tive dúvidas: dei uma joelhada no saco dele. Teve até um minuto de silêncio no meio da multidão. Todo mundo ficou passado. Faz uns quatro anos.

PLAYBOY -- Pelo visto você não leva desaforos para casa, certo?

ANGÉLICA -- Nunca me arrependi de nada do que fiz. Sempre teve um por quê. E, se não teve, terá um dia. Me arrependo de não ter continuado a estudar balé clássico e de não estudar línguas. E me arrependo de não ter namorado um pouco mais durante a minha adolescência. Me dediquei muito ao trabalho. Isso também foi importante, mas eu poderia ter feito mais amigos. Adolescência a gente só passa uma vez na vida.

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