Chamar Angélica Ksyvickis pura e simplesmente de lourinha
é, hoje
em dia, no mínimo uma conjunção de injustiça com
desinformação. Há
pelo menos uma trinca de excepcionais motivos para tratá-la,
digamos, como uma louraça. Primeiro: ela não é mais aquela
garotinha
projetada para a fama aos 5 anos, num concurso de beleza
infantil do
extinto programa Buzina do Chacrinha. Há muito se
transformou numa
belíssima mulher, que, prestes a completar 25 anos, sabe
exatamente
o que quer, inclusive dos homens. Segundo: Angélica é quem
assina os
cheques referentes a suas contas, bem como as de muitas
outras
pessoas, incluindo-se nesse rol as despesas da família.
Terceiro: o
invejável faturamento de 1,1 milhão de reais mensais é mais
do que
suficiente para acabar com qualquer diminutivo.
Nascida no dia 30 de novembro de 1973, em Santo André, na
região
do ABC paulista, a filha caçula do metalúrgico Francisco
Ksyvickis e
da dona de casa Angelina, herdeira de traços russos e
poloneses,
Angélica já passou tanto tempo diante das câmeras que pode
ter
esquecido como se soletra a palavra anonimato. Reconhecida
em cada
esquina do país, ela recolhe 40% de seus rendimentos de
exatamente
400 diferentes produtos licenciados com a sua marca -- o que
envolve
coisas com seu nome, seu rosto e até com sua famosa pinta na
coxa
esquerda, de 2,5 centímetros de largura e 5 centímetros de
comprimento. Outro quinhão, de cerca de 200000 reais
mensais, vem de
anúncios publicitários. Uma gorda fatia de 300000 reais é
composta
pelo salário pago pela Rede Globo. E o restante da bolada se
compõe
dos lucros dos onze discos que ela já lançou e de suas
aparições em
público para platéias de até 50 000 pessoas a cada show.
O nome Angélica e sua logomarca -- um A ladeado por
asinhas de
anjo -- já venderam pelo menos 3,5 milhões de vidrinhos de
esmalte,
1,2 milhão de sandalinhas de plástico e mais de 10 milhões
de
prosaicos pacotes de cereais para café da manhã, além de
bonecas,
cosméticos, roupas, joguinhos, mochilas e computadores. No
ano
passado, a empresa Angélica Produções e Participações
contabilizou
um faturamento bruto de 75 milhões de reais. Sua principal
concorrente, Xuxa Meneghel, embolsou no mesmo período cerca
de 15
milhões de reais com o mesmo tipo de atividade comercial, o
que
deixa Angélica folgada no topo do pódio de licenciamento dos
artistas brasileiros. Só que ela aproveita essa folga para
trabalhar
mais de doze horas por dia, seis dias por semana.
E vem mais trabalho por aí. A Globo Filmes, a mais
recente
empresa fundada pelas Organizações Globo, decidiu tê-la como
a
estrela de seu primeiro longa-metragem. Dirigido por Daniel
Filho e
com roteiro assinado por Carlos Lombardi, mais conhecido
como autor
de novelas, Nas Ondas da Angélica (título provisório) é uma
história
aventuresca sobre televisão que começa a ser filmada ainda
em agosto
e deve estrear em dezembro em centenas de cinemas de todo o
país.
Angélica já se considera uma veterana na carreira de
atriz --
depois de participar de Os Heróis Trapalhões, Os Trapalhões
na Terra
dos Monstros e Uma Escola Atrapalhada, três filmes
produzidos pelo
comediante Renato Aragão --, mas diz que se sente mais à
vontade
como apresentadora do programa Angel Mix, que alcança a
média diária
de 12 pontos no Ibope no horário das 8 às 12 horas. "Gosto
de ser eu
mesma", diz a também estrela da mininovela Caça-Talentos,
uma
espécie de seriado recheado de efeitos especiais no qual
seus longos
cabelos lisos são cacheados para que interprete uma
irreverente fada
contemporânea.
Sua paixão, porém, sempre foi cantar. Seus discos
vendem em torno
de 150 000 cópias por ano, mas o sucesso "Vou de Táxi"
(carro-chefe
de seu segundo álbum, lançado em 1987) alcançou a marca
monumental
de 1 milhão de exemplares vendidos. Nada mal para quem foi
aplaudida
em público pela primeira vez de boquinha fechada, aos 2 anos
de
idade, ao ser eleita a criança mais bonita num concurso do
Clube de
Campo Havaí, um reduto da classe média, à beira da Represa
de
Guarapiranga, em São Paulo, no ano de 1975.
No topo de uma carreira de sucessos que começou com
um programa
infantil na TV Manchete (por sete anos), ganhou reforço no
SBT (com
mais três anos) e chegou à Rede Globo (em 1996), Angélica
recorda-se
de ter passado somente por um trauma sério na vida, há vinte
anos: o
dia em que a casa da família foi invadida por assaltantes, o
pai
ficou ferido gravemente por dois tiros e sua única irmã,
Márcia
(onze anos mais velha), teve o cano de um revólver enfiado
na boca.
Curiosamente, foi exatamente para fazê-la esquecer do
episódio que a
mãe, Angelina, decidiu inscrevê-la no concurso de beleza do
Velho
Guerreiro. Angélica passou a perna em 2000 concorrentes de
todo o
Brasil, estrelou em seguida dezenas de campanhas
publicitárias,
quando ainda mal sabia escrever o próprio nome, e, aos 12
anos, em
abril de 1986, tornou-se apresentadora de televisão.
Não saiu mais de cena -- nem pretende. Angélica tem
contrato
assinado com a Rede Globo até o ano 2001 e planos de
manter-se como
apresentadora bem além dessa data. Admirada não apenas por
crianças
e adolescentes que imitam seu jeito de vestir e de falar,
mas também
por rapazes e gente mais grandinha que admira também outros
de seus
predicados, ela quer seguir uma carreira ainda mais
fulgurante e
acalenta o desejo de investir num programa para adultos.
"Sem
abandonar o público infantil", ela faz questão de
acrescentar.
Como cresceu em público, Angélica nem sempre
conseguiu manter sua
vida privada longe das luzes da própria TV ou das colunas de
fofocas
da imprensa. Mas seu melhor momento de mulher adulta
acontece agora,
quando ela mesma conta, por exemplo, como terminou um
relacionamento
de sete anos e meio com o apresentador César Filho, seu
primeiro
grande amor, em todos os sentidos, mas não eterno.
Oficialmente sem
namorado, Angélica descreve uma amizade "em preto-e-branco
com
bolinhas coloridas" com o dublê de ator e cantor Maurício
Mattar,
assume que sentiu uma paixão passageira pelo garotão
televisivo
Márcio Garcia e que está com o coração aberto a novas
experiências.
Para tratar desses e de assuntos ainda mais íntimos
da vida da
louraça Angélica, PLAYBOY destacou sua colaboradora no Rio
de
Janeiro Dalila Magarian, que conta um pouco dos bastidores
das
conversas:
"Entrevistar Angélica era um duplo desafio. Primeiro,
seria
preciso conseguir uma data na qual ela pudesse ceder várias
horas de
uma agenda absurdamente repleta. Segundo, porque ela sempre
teve a
imagem de uma garota cercada pelo excesso de proteção
familiar, de
opiniões ingênuas e história pessoal muito conhecida. Mas o
que
aconteceu foi o contrário. Deparei-me com uma mulher adulta,
que
sabe muito bem o que quer. Angélica não se recusou a falar
sobre
assunto nenhum, à exceção de seu faturamento (nesse caso,
atendendo
a uma cláusula de seu contrato com a Rede Globo). Mas
permitiu que
seus assessores o fizessem. Também não se esquivou de
revelar suas
idéias e experiências sobre sexo, falar da sua primeira vez,
dos
rompimentos e de homens mais velhos.
"Marcar o dia da entrevista foi bem mais complicado.
Acabamos nos
encontrando em duas diferentes ocasiões, com um longo
invervalo
entre as duas conversas, que renderam oito horas de
gravação. A
primeira sessão aconteceu nos bastidores do Teatro Fênix, no
Rio de
Janeiro, onde Angélica grava o seu Angel Mix. Ela estava
cansada,
mas em nenhum momento demonstrou mau humor. Acompanhada da
irmã, a
publicitária Márcia Marba, diretora artística da empresa
Angélica
Produções e Participações, ela precisou interromper a
conversa uma
vez, para tratar de negócios com seu empresário, Marcos
Saraiva, e
se informar sobre novos produtos a ser licenciados.
"Nosso segundo encontro foi num sábado de sol, numa
cobertura
tríplex na Barra da Tijuca com 1000 metros quadrados de área
e
irrestrita vista para o mar. Ela tinha se mudado para lá
fazia
semanas. Avaliado em 1,2 milhão de reais, o apartamento
passou por
uma reforma de nove meses para receber a moradora e consumiu
500 000
reais no projeto de decoração assinado pelo arquiteto João
Armentano. Fui conduzida a uma espaçosa sala íntima com
sofás
confortáveis e um imenso telão para projeção de filmes,
dando saída
para o terraço com piscina e para a sala de ginástica.
"Angélica surgiu vinte minutos depois, vestindo uma
blusa de
alcinhas que marcava o desenho dos seios e uma calça justa.
Produzida com uma maquiagem leve, ela estava preocupada com
as fotos
da entrevista. 'Você quer que eu use roupa de outra cor ou
penteie
os cabelos de um jeito diferente?', peguntou à fotógrafa,
sem
esconder a vaidade. Depois, durante as respostas, não
esconderia
também as outras características de sua personalidade e as
histórias
de sua vida -- nem mesmo a de ter se arrependido de um
detalhe nada
negligenciável de seu passado. 'Eu deveria ter namorado
muito mais',
concluiu a certa altura. Mas isso, todos sabemos, ela ainda
tem
muito tempo pela frente para fazer. Aos candidatos ao posto,
ela dá
várias dicas nesta entrevista."
PLAYBOY --
Como é o seu tipo de homem ideal?
ANGÉLICA --
[Risos.] Hoje em dia não ligo mais para a beleza.
Beleza não
põe mesa [rindo]. Quero que seja uma pessoa dedicada,
carinhosa, que
admire o que eu faço e que também trabalhe muito, para não
reclamar
do meu ritmo de trabalho.
PLAYBOY --
Nenhuma pista sobre o tipo físico?
ANGÉLICA --
Gosto de homens morenos, já deu para perceber, né? E
de
homens fortes, não muito magros. Só abro exceção para um
louro, o
Brad Pitt [risos]. É louro, mas tem traços agressivos, cara
de
homem.
PLAYBOY --
Os homens preferem as louras ou as morenas?
ANGÉLICA --
Acho que os homens preferem todas as mulheres
[rindo]. Ô
raça! [Risos.] Eu tenho muitos amigos que adoram morenas. A
loura
tem uma coisa com homem, com mulher, com criança, que é a
coisa da
fada, da princesa, dos personagens purinhos, bonitinhos. E
vivemos
num país tropical, onde ser loura é o diferente. Vou para o
exterior
e sou confundida com trombadinha! [Risos.]
PLAYBOY --
Você usa alguma tintura no cabelo?
ANGÉLICA --
Não, nunca, mas se usasse falaria. Evito usar muita
coisa no
cabelo para não estragá-lo.
PLAYBOY --
Qual é o ator dos seus sonhos?
ANGÉLICA --
Brad Pitt! [Risos.] Meu sonho é fazer uma entrevista
com Brad
Pitt, fazer um filme com Brad Pitt, conhecer o Brad Pitt!
PLAYBOY --
Tudo bem, mas o que você acha, por exemplo, do
Leonardo
DiCaprio?
ANGÉLICA --
[Sem entusiasmo.] É, legal. Mas não chega aos pés do
Brad
Pitt! [Risos.]
PLAYBOY --
Quer dizer, então, que homens muito jovens não têm
chance com
você?
ANGÉLICA --
Realmente gosto de homens mais velhos [rindo]. Tem
muito
garoto por aí com uma cabeça ótima. Mas convivo com pessoas
bem mais
velhas, sou muito madura para minha idade. Então perco um
pouco a
paciência quando não rola um diálogo. Gosto dos garotos
também, me
divirto com eles, mas para manter um relacionamento sério
prefiro os
homens mais velhos. Não veeeeelhos [rindo]. Mas nunca mais
novos. A
idade que me atrai é, digamos, uns cinco anos a mais do que
eu. Dá
menos dor de cabeça. Porque homem em si já é muito confuso!
[Risos.]
PLAYBOY --
O que você não suporta num homem?
ANGÉLICA --
Machismo. Esse tipo que pensa que pode tudo e você
não pode
nada. Acho que homem tem que chorar, ter a sua própria
fragilidade.
Claro que não se pode deixar a mulher muito masculinizada
nem o
homem muito feminino. Mas homens e mulheres precisam se
aproximar. O
homem tem que ajudar no serviço de casa porque a mulher
ajuda na
rua. Acho que a mulher tem que tomar muito cuidado nessa
ânsia de
querer ser igual ao homem para não perder a feminilidade.
PLAYBOY --
O que você espera de um relacionamento?
ANGÉLICA -- Espero estar apaixonada. Para eu namorar, a
pessoa tem que ser realmente um companheiro, que possa estar
do meu
lado, dividir as coisas, até como era um pouco com o César
[Filho],
que era muito legal nesse lado. Mas que também haja paixão,
admiração. É muito importante admirar alguém que me admire
também
como profissional e como pessoa. Que me olhe e veja que sou
legal.
Eu me considero muito parecida com isso que todo mundo
comenta e vê.
Mas há uma magia, e na vida real eu faço o que todo mundo
faz.
Então, quero uma pessoa que me conheça na intimidade e
continue me
admirando ou passe a me admirar ainda mais. E espero um dia
ter um
marido, ter filhos, casar também.
PLAYBOY --
Algum tarólogo ou astrólogo já previu quando você irá
se
casar?
ANGÉLICA --
Ih, cada um fala uma coisa! E a data já bateu umas
duas ou
três vezes. Dizem que vou me casar e ter um filho com 27
anos. E
garantem que será um menino, e depois terei mais dois
filhos.
PLAYBOY --
E o que mais?
ANGÉLICA --
Que vou ficar viúva! [Rápida.] Ih, não publica isso,
senão
ninguém vai querer casar comigo! [Rindo.]
PLAYBOY --
Você é ciumenta?
ANGÉLICA --
Sou, mas não é posse. É ciúme mesmo. Mas nunca armei
barraco.
Sou muito discreta e tinhosa. Me dou valor. Não dou o braço a
torcer. Às vezes é um pouco de insegurança. Estou sempre
muito
rodeada de gente, quero as pessoas todas para mim... Mas é
tudo
controlável.
PLAYBOY --
O que você acha ruim no casamento?
ANGÉLICA --
A invasão de individualidade. Esse é o principal
motivo das
separações. É preciso dar espaço para o outro respirar.
Apesar de
ser ciumenta, vou tentar evitar esse tipo de coisa..
PLAYBOY --
E o que faz um casamento dar certo?
ANGÉLICA --
O companheirismo. Hoje em dia os casais estão muito
moderninhos. Essa história de casamento aberto, por exemplo.
Acho
melhor, então, não ter casamento. Como alguém consegue ser
feliz
sabendo que o marido está com outra? Tem gente que aceita.
Mas, para
mim, isso é falta de amor-próprio. Tenho até medo de falar,
porque
sou muito nova, ainda posso passar por tanta coisa... Vai
que me
apaixono perdidamente por alguém e começo a abrir mão de
tudo. Vou
deixar o futuro acontecer.
PLAYBOY --
É verdade que você pretende ter filhos até os 29
anos, como
saiu publicado numa revista?
ANGÉLICA --
Perguntaram o que faltava para eu me sentir
realizada. Claro
que aos 24 anos falta muita coisa para me achar realizada
[risos].
Daí, o que falta para qualquer mulher? Ué, quero me casar e
ter
filho. Mas não é para agora. Estou curtindo esse momento
sozinha.
Mas vai chegar a hora em que vou querer curtir um filho, um
marido... E a repórter pegou essa história e antecipou as
coisas,
para comparar com a Xuxa, e isso me irritou. Quem vê diz:
"Ih, olha
a Angélica imitando a Xuxa, querendo ficar grávida". E não é
assim.
Isso a gente não programa. Pode ser que, quando eu tiver 28,
queira
ter um filho só com 32.
PLAYBOY --
Você é a favor ou contra o aborto?
ANGÉLICA --
É complicado. Sou a favor da vida. Não sou a favor da
morte.
E sou a favor de um certo controle de natalidade. Acho que
deveria
existir controle, para essa mulherada parar de fazer filho.
Mas daí
vem a questão da educação. Tem muita adolescente grávida,
tem muita
criança que nasce sem pai. A televisão também tem uma
participação
muito grande, tem que falar mais sobre isso, deixar um pouco
de lado
o falso moralismo e procurar ver mais a realidade. Tem muita
criança
abandonada. E eu sou muito a favor de adoção.
PLAYBOY --
Você já pensou em adotar uma criança?
ANGÉLICA --
Já, aos 14 anos. Minha mãe perguntou se era para ela
cuidar,
claro [risos]. Eu não adotaria uma criança sem primeiro
arrumar um
marido para isso. Não vou ser louca de adotar uma criança
sem pai,
porque seria egoísmo da minha parte. Por mais que eu
pretendesse
ajudar, não estaria dando uma boa estrutura para o meu
filho.
PLAYBOY --
E, nessa difícil caminhada para encontrar um amor,
você já
beijou alguém na mesma noite em que conheceu?
ANGÉLICA -- Beijar?!
Não. Na
noite seguinte, mas nunca na primeira [risos]. Esse negócio
de ficar
eu acho bobeira. Você não sabe nem o nome da pessoa e fica
só para
beijar na boca? Agora, depende do ficar... Se fosse o Brad
Pitt
[risos]... Eu sei toda a vida dele, todo o passado dele!
[Risos.]
Beijo na boca é um negócio muito íntimo, tem que conhecer a
pessoa.
PLAYBOY --
Você fica excitada vendo uma cena erótica no cinema,
com o
Brad Pitt, por exemplo?
ANGÉLICA --
Humm... Acho que sim [risos]. Não precisa nem ser com
o Brad
Pitt. Se for bonitinho... Depende do momento.
PLAYBOY --
Você se considera sensual? Qual a parte do seu corpo
de que
você mais gosta?
ANGÉLICA --
Às vezes me acho uma mulamba, outras vezes me sinto
sensual... Gosto do meu cabelo... e da minha boca. Gosto do
meu
sorriso. É o que mais chama a atenção em mim, a boca e o
sorriso.
PLAYBOY --
Você já se apaixonou por alguém que nunca soube do
seu amor?
ANGÉLICA --
Fui apaixonada por um professor de matemática. Mas
ele nunca
ficou sabendo. Vai descobrir agora! E eu era péssima em
matemática!
Mas nunca fui dessas de amor platônico. Se gostava, eu ia
atrás.
Nunca achei essa que mulher não pode tomar a iniciativa. Se
gosta da
pessoa, tem que demonstrar isso de alguma forma, correr e ir
à luta.
Claro que tem que fazer um charminho de vez em quando. Como o
homem
também faz. Hoje em dia eu não teria paciência para ter um
amor
platônico. Se eu estiver gostando de alguém, ele saberá
[risos].
PLAYBOY --
Você já foi paquerada por outra mulher?
ANGÉLICA --
Não, mas soube de mulheres que ficaram a fim de mim,
pessoas
do meio, até.
PLAYBOY --
Do meio? Opa! Quem?
ANGÉLICA -- Ah,
pessoas da
produção, gente assim, ninguém conhecido. Mas nunca alguém
que tenha
me deixado constrangida ou que precisasse dar um fora. Nunca
me
deixaram em má situação. Acabava até levando na brincadeira.
Mas
acho complicado. É um assunto meio novo ainda para mim. As
primeiras
vezes em que vi duas mulheres juntas fiquei meio assustada.
PLAYBOY --
Atualmente você fica à vontade ao ver um casal gay?
ANGÉLICA --
Fico numa boa, porque tenho alguns amigos
homossexuais. Eles
me tratam bem, gostam de mim. Tenho vários fãs homossexuais.
São
alegres, de bom astral e fiéis. Quando gostam, brigam por
você,
idolatram, são mais sinceros. Talvez por terem assumido uma
postura
diferente na vida, têm mais coragem.
PLAYBOY --
Você conseguiria se imaginar numa relação
homossexual?
ANGÉLICA -- [Rindo,
pede para a
empregada, Selma, servir um pedaço de bolo, toma um pouco de
água e,
finalmente, responde:] Complicado, difícil dizer! Digo hoje
que não.
Não é preconceito, mas gosto mesmo é daquela coisa certinha.
Ficaria
meio tímida.
PLAYBOY --
Tem algum tipo de cantada que deixa você
constrangida?
ANGÉLICA --
Aquelas coisas tipo baixaria, chamando de gostosa,
bunduda,
disso eu não gosto. Prefiro as mais carinhosas, quando um
homem a
trata por querida, essas coisas. Se partir para a baixaria,
faço
cara feia na hora.
PLAYBOY -- Você já passou por alguma situação desse
tipo?
ANGÉLICA --
Já, na saída de um show em Londrina [no Paraná].
Quando
estava passando por um cordão de isolamento, senti uma mão
no meu
seio. Pensei que fosse uma criança. Quando olhei, vi que era
a mão
de um dos policiais [pausa]... Subi a escada do ônibus
tentando
esquecer o assunto, mas me subiu o sangue... Não teve jeito:
desci à
procura do infeliz e vi que ele estava olhando para a minha
cara.
Não tive dúvidas: dei uma joelhada no saco dele. Teve até um
minuto
de silêncio no meio da multidão. Todo mundo ficou passado.
Faz uns
quatro anos.
PLAYBOY --
Pelo visto você não leva desaforos para casa, certo?
ANGÉLICA --
Nunca me arrependi de nada do que fiz. Sempre teve um
por
quê. E, se não teve, terá um dia. Me arrependo de não ter
continuado
a estudar balé clássico e de não estudar línguas. E me
arrependo de
não ter namorado um pouco mais durante a minha adolescência.
Me
dediquei muito ao trabalho. Isso também foi importante, mas
eu
poderia ter feito mais amigos. Adolescência a gente só passa
uma vez
na vida.